NENPUKU SATO
ah trovão
na densa floresta em todas as direções
trovõezinhos
Nenpuku
Sato
Sobre a mesa, um livro de Nenpuku Sato.[1]
Jamais saberei dizer quanto meu coração ama esse haijin... Um de seus poemas,
aquele que talvez seja o mais conhecido, diz algo assim: “rasgo de trovão e
seus rebentos a ecoar dos quatro cantos do mar de selva”. Ou: “ribombo do
trovão – na densa floresta em todas as direções reverberam seus filhos”.
Creio
que esse haiku é a verdadeira captura de um instante em seu núcleo de
eternidade, como ouço dizer dos haicais bons. Eu não entendo bem essa
expressão, mas gosto muito dela.
Em
face do trovão, de todos os cantos retumbam ecos como filhos que acorrem ao
chamado do pai. Segundo Edson Kenji Iura, aí se exprime “o assombro do
imigrante ante a imensidão da natureza no novo país (...) algo que japonês
nunca vira”.[2]
Poucas
vezes vi, com tanta precisão e força, a síntese de um momento de encontro do
homem com a natureza selvagem e as potências do céu. Seu haiku é uma verdadeira
epifania! Toca-me pela clareza da descrição, sem qualquer anseio de transcendência
ou metafísica.
Perplexidade
e espanto. Talvez, o mesmo espanto do Japão antigo adorando seus deuses. Ou o assombro
dos povos que aqui no Brasil viveram antes de nós e glorificaram Tupã.[3] A
mesma comoção que se apodera de mim, todas as vezes que vejo esse poema. Os que
hoje o leem, aqui ou no Japão, são imediatamente levados para dentro da selva,
ao ribombar do trovão e seus ecos vindos dos quatro cantos dela.
Tal é
a grandeza do espírito e da obra de Nenpuku Sato, mestre sublime.[4]
清心
diário de haiku,
2015
[1]
Nenpuku Sato (Japão, 1898 - Brasil, 1979) chegou a ter tantos discípulos, que
foi responsável pelo maior grupo de haicaístas do mundo, fora do Japão. Ele
peregrinava pelo Brasil, ensinando haicai aos imigrantes japoneses.
[2]
“Nempuku Sato: Um mestre do haicai no Brasil”, Zashi, edição 07 de março de
2008.
[3]
Tupã: deus supremo e trovão na cultura de antigos povos indígenas.
[4]
Sublime: “1. que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou
intelectual; elevado. 2. superlativamente belo, esteticamente perfeito;
grandioso, soberbo.” (Dicionário - Definições de Oxford Languages).