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Mostrando postagens de setembro, 2023

DUAS FOLHAS SOBRE A MESA...

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    Imagem Pixabay Uma tarde passei pelo capinzal, perto de onde moro. [1]  O vento do outono batia nele e fazia um gracioso rumor. Era como se eu ouvisse isso pela primeira vez. Havia também muito barulho de carros. Eu senti o estado de graça daquele instante, mas não o alcancei. Persegui por dias a imagem do som, voltando muitas vezes ao lugar. Escrevi o haicai tempos depois, indo lá, em hora de mais silêncio, à noite, para escutar do vento e das folhas a proporção exata do ruído e natureza de sua música. Tive saudade do ranger da crina do arco sobre as cordas do meu violino. ...................................................... Muitos dias se passaram, sem que eu tenha revisitado estes apontamentos. O que escrevi até agora faz algum sentido?   Há duas folhas secas sobre a mesa. Como disse em outro canto deste diário, tenho buscado aprofundar-me nas obras e nos ensinamentos dos grandes mestres. Esse sentimento de respeito se manifesta com espírito de verdadeira gratidão, boa vonta

FLOR DE UMÊ

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  Imagem Pixabay * o som do silêncio  — última folha de inverno sobre o asfalto. desponta, perfumada, no canteiro malcuidado  — flor de umê a cor desta tarde  — um cacho de nêsperas sobre a mesa O haicai não deve nascer de modo artificial, mas puro e simples... prenhe de verdade. É assim que tenho considerado o exercício de compô-lo, no caminho. Como não posso, pela minha expectativa, fazer o sol nascer ou se pôr, devo apenas escrever. Escrever e  não querer tornar-me  haijin .  Estar no caminho é bom e é o que importa. N ão sei fazer melhor, mas ninguém deve deixar de seguir o impulso do coração por causa disso. C ada haiku é uma conquista que celebro como criança em noite de Natal.  Invejo os que escrevem diariamente, mas ainda não atingi nem sei se vou atingir semelhante estado de espírito e fluidez artística. Por serem poucos e represados até a hora do fluxo, em meu jeito de compô-los, acredito que os haicais vêm com força própria e talvez tragam marcas de meu próprio caráter. Só a

FLUTUANTES

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Imagem by DeltaWorks rios flutuantes — a passagem do verão  pela minha terra Resolvi escrever o jorro de coisas que em pouco tempo encherão estas páginas, sem ao menos saber o que direi de fato e ao certo. A vida passa veloz, como um trem-bala.   Ontem li no jornal uma notícia sobre rios flutuantes. [1] Rios voadores, que não são senão correntes de ar ou ventos úmidos, que levam grandes quantidades de água de um lugar a outro, pelo espaço. Pode ser que esses rios sejam só tapetes voadores ou serpentes de prata. Guardei o recorte de jornal. Achei bonita a notícia e até pensei em escrever um poema. 清心 diário, fragmento 2015 [1] Refere-se a uma matéria publicada na Folha de S. Paulo em 22 de março de 2015.