VOO DA LIBÉLULA - Seishin
voo da libélula
(OUTONO)
entre
as hortaliças
contas
de um colar desfeito —
gotas
de rocio
jardim
japonês —
a
dança do bambuzal
na
manhã de abril
festa
de noivado —
o
caramanchão repleto
de
uvas maduras
um
fado suave —
nas
ruelas de Coimbra
a
cor deste outono
placidez
do lago —
ah...
o voo da libélula
de
asas translúcidas
quase
uma carícia —
no
alvor do algodoal
vento
da tardinha
nuvens
desta tarde —
ao
voo das maritacas
certa
nostalgia
quaresmeira
em flor —
austeridade
e leveza
da
casa em ruínas
praça
da estação —
vão-se
lentas uma a uma
as
folhas do plátano
no
céu nublado
da
aldeia adormecida —
lua
desta noite
janelas
de vidro —
a
prata do céu de outono
na
prata da casa
carrilhão
silente —
noite
vazada de estrelas
no
pátio do claustro
um
pedinte cego
na
escadaria do templo —
a
noite estrelada
a
lua esperada —
resplendor
silencioso
sobre
o Potengi
o
rosto desfeito
na
água morna do açude —
já
tão alta a lua
noite
sem fim —
dentro
e fora de mim
os
grilos cantam
ARAGEM, Seishin. Prêmio Matsuo Bashô de Poesia Haicai 2017. Editora Mondrongo: Bahia, 2018.