VOO DA LIBÉLULA - Seishin

 

(Imagem Melanie - Pixabay)


voo da libélula

(OUTONO)

 

entre as hortaliças

contas de um colar desfeito —

gotas de rocio

 

jardim japonês —

a dança do bambuzal

na manhã de abril

 

festa de noivado —

o caramanchão repleto

de uvas maduras

 

um fado suave —

nas ruelas de Coimbra

a cor deste outono

 

placidez do lago —

ah... o voo da libélula

de asas translúcidas

 

quase uma carícia —

no alvor do algodoal

vento da tardinha

 

nuvens desta tarde —

ao voo das maritacas

certa nostalgia

 

quaresmeira em flor —

austeridade e leveza

da casa em ruínas

 

praça da estação —

vão-se lentas uma a uma

as folhas do plátano

 

no céu nublado

da aldeia adormecida —

lua desta noite

 

janelas de vidro —

a prata do céu de outono

na prata da casa

 

carrilhão silente —

noite vazada de estrelas

no pátio do claustro

 

um pedinte cego

na escadaria do templo —

a noite estrelada

 

a lua esperada —

resplendor silencioso

sobre o Potengi

 

o rosto desfeito

na água morna do açude —

já tão alta a lua 

 

noite sem fim —

dentro e fora de mim

os grilos cantam


ARAGEM, Seishin. Prêmio Matsuo Bashô de Poesia Haicai 2017. Editora Mondrongo: Bahia, 2018.

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