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NENPUKU SATO - HAICAIS

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Autógrafo de Nenpuku Sato Alguns haicais de Nenpuku Sato, em preciosa versão de Edson Iura. CAQUI:  Revista Brasileira de Haicai . (Versões: Caqui) natsugusa ya nagenawa ushi o etsutsu yuku Ervas de verão -- Recolho com o laço Os bois um a um. inu orite ushi yorokobazu maki takibi O gado incomodado Com a presença do cão. Fogueira no prado. kambatsu ya makiba mo taore hajimeshi to Grande estiagem -- Também o gado Começa a definhar. uma ni noru hakusha musubeshi hadashi kana Montado ao cavalo Com as esporas atadas E os pés descalços. norizome o ou ko segare no hadaka uma Primeira montaria do ano -- Meu filho corre atrás Do cavalo sem arreios. shunrai ya futari nottaru uma ni muchi Trovão de primavera -- Chicote no cavalo Montado por dois. hana kôhi mon irite nao uma ni muchi Café em flor... Ao entrar pela porteira, Chicote no cavalo! tokage kari hikko no inu mo seko no uchi Caçada de lagartos. Até o cachorro manco Torna-se batedor. buta no mure oitate imin ressha tsuku Após tocar Uma...

RESENHA - O Canto do Inseto

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pixabay   O CANTO DO INSETO por Carlos Martins   Acho que sou um privilegiado neste mundo haicaístico. – “Então quer dizer que no restante da vida não é?” – diria alguém. Não, só quero enfatizar o quanto o Insondável foi e é generoso comigo, quando se trata de tudo que cerca o poeminha de três versos. Quantas surpresas nas páginas de livros que abro, em pessoas com quem passo a conviver, muitas sem convite, trazidas pelas mãos de algum deus poético! Foi assim com o frade carmelita descalço, Antonio Fabiano, Seishin, com o qual, via Grêmio Haicai Ipê, passei a compartilhar ocasiões feitas de amizade e troca poética. Tal encontro possibilitou um rico intercâmbio missivista virtual, de poemas, opiniões, críticas e, uma muito especial: a revisão dos seus livros. Como este que tenho em mãos impresso, mas que já foi lido tantas vezes em arquivo, anotado, sugerido e debatido. Agora, faço a primeira leitura como “leitor” e a última como “revisor” – o que é algo novo para mim...

RESENHA - O Som da Cascata

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pixabay O SOM DA CASCATA por Carlos Martins     Meu Deus do Céu, se este livro trouxesse apenas o seu prefácio, já seria uma das maiores contribuições que um haijin poderia ter, em seu palmilhar o Caminho do Haicai!   Não consigo parar de relê-lo, pois tem tudo que acredito e na voz, nas palavras, de um dos nossos maiores mestres de haicai: Seishin. Sua humildade, entretanto, fará com que ele torça o nariz em desaprovação a essas minhas palavras, mas, que posso fazer se acredito nelas, por vivenciar mediante seus escritos e – por grata felicidade – nossas conversas ocasionais?   “ O que faz um haicai ser haicai e não outra coisa? Resposta possível, mas que apenas tangencia a questão: o sabor. (...) Se a sua mente estiver vazia, talvez você encontre o haicai. Talvez nunca escreva um, mas saberá seu sabor quando o encontrar. Algo vai tocar seu coração. ”   Com essa pérola, ele inicia o prefácio, nos convidando a refletir sobre nosso próp...

O CANTO DO INSETO

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Telucazu Edições   https://telucazu.lojaintegrada.com.br/o-canto-do-inseto-seishin

TEMAS DE VERÃO

visita ao zoológico — na boca do jacaré riso assustador  férias de janeiro — nenhuma estrela no céu  de Belo Horizonte noite de verão — o clarão da cidade sob o céu nublado devagar, o ônibus — sobre as montanhas de Minas o céu de verão noite de verão — não sei se é vento ou chuva o fragor lá fora ah esse calor! no peito um abafamento maior que o da estação tarde de verão —   cheiro de terra molhada queima nas narinas chuva de janeiro — que não se rompa a barragem pedimos, Senhor! o cometa verde risca o planeta azul — este fevereiro  *Refere-se ao Cometa C/2022 E3 (ZTF). O cometa verde voltou a passar pela Terra após 50 mil anos. Foi visto no início de fevereiro de 2023. arcos da lapa — com charme vai se curvando o sol de verão ah flor da lua esta noite te abrirás — estarei desperto? chuva de verão — isso se pode dizer dos jovens amores

AS CONTAS DO ROSÁRIO

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pixabay   estação chuvosa — florzinhas de marmeleiro enfeitam a caatinga   pátio do asilo — um Papai Noel magrinho distribui presentes   chuva de verão — a noite se torna dia antes do trovão    com flores pra mestra a visita do discípulo — tarde de verão   velho casarão — florada de gerânios em suas sacadas   ao fundo a lua — esvoaçar de morcegos entre o arvoredo   chuva de verão — chapinha a lama da estrada o pé do moleque   tarde de verão — o telhado reluzente da casa abandonada   casca de cigarra — à lembrança, de repente, haiku de Bashô   súbito trovão — curva-se a roseira ao peso da chuva   ah o frescor das flores despetaladas — chuva de verão   depois da chuva o perfume da roseira em todo o alpendre   lago de verão — o capinzal já bem alto acena, acena...   manhã de janeiro — a primavera em cascata no muro da casa   o monge em silêncio passa as contas do rosário — chuva de verão   vozes da mata —...

MANHÃ DE DOMINGO

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  a chuva fininha... um bando de passarinhos no capim que cresce   Tal cena eu a vi no final de novembro de dois mil e vinte e quatro, em uma manhã de domingo, no claustro de cima do Eremitério. Ainda é primavera. Escrevi este haicai para o amigo Carlos Martins, mestre de haiku do “Zen do Haicai”, por ocasião de seu aniversário.   Hesitei se usaria travessão, nenhum ponto ou reticências. Só muito raramente aparecem pontos de reticência em meus haicais. Seu uso neste haiku, no final da primeira composição frasal, sugere o monótono contínuo da chuva, tênue, ação que se prolonga e não acaba... Dá ao verso um tom lacônico e convidativo, além de aprofundar a sensação de silêncio. São percepções minhas, não sei se outros sentem assim. É possível deduzir que a chuva é de primavera: em geral constante, fina, silenciosa, cuja poética é sentimental, de liberdade, desprendimento, despreocupação (cf. kigologia). Mas disposta como está, não exerce função de kigo . É apen...