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Mostrando postagens de novembro, 2024

AS CONTAS DO ROSÁRIO

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pixabay   estação chuvosa — florzinhas de marmeleiro enfeitam a caatinga   pátio do asilo — um Papai Noel magrinho distribui presentes   chuva de verão — a noite se torna dia antes do trovão    com flores pra mestra a visita do discípulo — tarde de verão   velho casarão — florada de gerânios em suas sacadas   ao fundo a lua — esvoaçar de morcegos entre o arvoredo   chuva de verão — chapinha a lama da estrada o pé do moleque   tarde de verão — o telhado reluzente da casa abandonada   casca de cigarra — à lembrança, de repente, haiku de Bashô   súbito trovão — curva-se a roseira ao peso da chuva   ah o frescor das flores despetaladas — chuva de verão   depois da chuva o perfume da roseira em todo o alpendre   lago de verão — o capinzal já bem alto acena, acena...   manhã de janeiro — a primavera em cascata no muro da casa   o monge em silêncio passa as contas do rosário — chuva de verão   vozes da mata —...

MANHÃ DE DOMINGO

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  a chuva fininha... um bando de passarinhos no capim que cresce   Tal cena eu a vi no final de novembro de dois mil e vinte e quatro, em uma manhã de domingo, no claustro de cima do Eremitério. Ainda é primavera. Escrevi este haicai para o amigo Carlos Martins, mestre de haiku do “Zen do Haicai”, por ocasião de seu aniversário.   Hesitei se usaria travessão, nenhum ponto ou reticências. Só muito raramente aparecem pontos de reticência em meus haicais. Seu uso neste haiku, no final da primeira composição frasal, sugere o monótono contínuo da chuva, tênue, ação que se prolonga e não acaba... Dá ao verso um tom lacônico e convidativo, além de aprofundar a sensação de silêncio. São percepções minhas, não sei se outros sentem assim. É possível deduzir que a chuva é de primavera: em geral constante, fina, silenciosa, cuja poética é sentimental, de liberdade, desprendimento, despreocupação (cf. kigologia). Mas disposta como está, não exerce função de kigo . É apen...