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MANHÃ DE DOMINGO

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  a chuva fininha... um bando de passarinhos no capim que cresce   Tal cena eu a vi no final de novembro de dois mil e vinte e quatro, em uma manhã de domingo, no claustro de cima do Eremitério. Ainda é primavera. Escrevi este haicai para o amigo Carlos Martins, mestre de haiku do “Zen do Haicai”, por ocasião de seu aniversário.   Hesitei se usaria travessão, nenhum ponto ou reticências. Só muito raramente aparecem pontos de reticência em meus haicais. Seu uso neste haiku, no final da primeira composição frasal, sugere o monótono contínuo da chuva, tênue, ação que se prolonga e não acaba... Dá ao verso um tom lacônico e convidativo, além de aprofundar a sensação de silêncio. São percepções minhas, não sei se outros sentem assim. É possível deduzir que a chuva é de primavera: em geral constante, fina, silenciosa, cuja poética é sentimental, de liberdade, desprendimento, despreocupação (cf. kigologia). Mas disposta como está, não exerce função de kigo . É apenas tópico, cen

NO APAGAR DAS LUZES

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(pixabay) Para nós, o kigo tem centralidade e dele deve originar-se o haicai. [1]   Quanto a isso, estamos de acordo!   Mas se colocarmos em debate trinta poetas de haicai tradicional, haverá dissenso e uns dirão aos outros que há na tertúlia vinte e nove falsos poetas e tipos de haicai. Isso não é exclusividade brasileira! É o que vejo também nas discussões de haicai de outros países.   Enfileiro os maiores poetas do Japão. Não imagino algo mais tenso que Bashô e Shiki convidados para a mesma festa! [2] Damo-nos o apelido poético de “escola de Bashô”, mas devemos quase tudo ao gênio do caqui, que desconstruiu e até ridicularizava o velho mestre do haicai da rã.   Será que os sábios da grande assembleia têm lido os haicais que são feitos no Japão de hoje? Se soubessem japonês, diriam para os jovens poetas da Terra do Sol Nascente: “kore wa haiku dewa arimasen” ... [3]   O tempo fez-me mais humilde, pelo crisol de meus próprios fracassos nesta arte. Eu não sei o que é haicai. O que é

CHUVINHA DE INVERNO

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Imagem Pixabay   chuvinha de inverno — a infância revisitada em cada canto da casa   ao longo da via entre carros e buzinas — flores de ipês-roxos   ipê-roxo em flor — um dia de estrada e calos pra te contemplar   na placa da estrada como a indicar o destino — o caburezinho   finda o pôr-do-sol — da sombra vem o canto da coruja   ao sabor do vento o ondular do capim — inverno fenece Seishin  

AS LUZES DO MORRO

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Imagem Pixabay   ao longe o morro pontilhado de luz — lua de outono   as luzes do morro nas casas dos pobrezinhos — lua de outono   morna luz do sol — a cor inesquecível das folhas de abril Seishin

ÁGUAS DE OUTONO

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Imagem Pixabay   acaba-se o mês pelas biqueiras da casa — águas de outono Seishin

LUA NUBLADA...

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Teruko Oda e Seishin (arquivo pessoal) os passos de um bêbado quebram o silêncio da rua — a lua nublada   romeiros na estrada — também segue seu caminho lua de verão   no céu nublado da aldeia adormecida — lua desta noite   o tio enfermo — última lua de inverno nublada no céu   (Seishin)

A LUA, O LUAR...

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Seishin e Teruko Oda  (arquivo pessoal) Noite muito quente — Mas a lua que me abraça diz que é primavera.   Lua de verão — Um peão lustrando as botas na porta do rancho.   Cadeiras a leste na minha terra natal — Lua desta noite!   Vilarejo ao longe — Olhando bem as luzes brancas lua de inverno.   (“Janelas e tempo”, Teruko Oda. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.)